sexta-feira, 6 de setembro de 2019

ARENAS INVISÍVEIS



Democracia, redes sociais, notícias falsas. O assunto suscita severas querelas ideológicas. O pluralismo constitui essência e vulnerabilidade do jogo democrático. Antigas, modernas ou pós-modernas, as democracias repousam no preceito antropocêntrico - sua grandeza e mediocridade.
O humanismo inspirador de todas as democracias implica paradigma imperfeito. Para vivenciá-la, erige como imprescindível maturar a liberdade-autonomia e a liberdade-participação. Há que se levar em pauta as vontades opostas. Por esse prisma, o processo comunicativo, mediado pelas redes sociais, facilita-se em tese. 
Não se trata, contudo, de processo simples, mas complexo, plural e de riscos em contexto histórico de limitação da vontade geral pelos ditames dos direitos humanos e pelo primado da vedação ao retrocesso. Abertura, transparência, premiar a meritocracia e eleger estratégias comunicativas são desafios constantes. 
Novas práticas e aberturas mentais na democratização da informação e da produção do conhecimento (a partir de interações do sujeito com os objetos cognoscíveis físicos e/ou culturais) são mais que desejáveis, o que demanda esforços convergentes à inibição das notícias falsas. Por fragilizarem os canais de accountability, acarretam falhas de governo e não podem ser olvidadas. 
A democracia - “vaca sagrada” do mundo ocidental – deve estar a serviço da oferta de justos pontos de partida aos atores sociais, cabendo o ponto de chegada ao livre arbítrio de cada um. A educação (formativa, informativa e para a moralidade) desponta como fator positivo de higidez sistêmica preventiva. Paralelamente, claro, devem ser estabelecidos mecanismos normativos cíveis e penais repressivos. 
Diante do exposto, não é razoável compreender a democracia contemporânea como inexoravelmente ameaçada pelo fenômeno das redes sociais e das notícias falsas. Pensar dessa forma seria dotar as redes sociais e o próprio processo comunicativo de superpoderes destrutivos planetários e civilizatórios. Desnecessária, pois, ginástica interpretativa para ver o óbvio: o sujeito histórico precisa ser resgatado enquanto ser humano. Urge refletir criticamente no país dos absurdos – o Brasil.

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Editorial de autoria da professora Ana Paula de Oliveira Gomes.

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